quinta-feira, 31 de maio de 2012

Feira do Livro do Porto 2012


A Feira do Livro do Porto arranca já hoje na Avenida dos Aliados, como é habitual. Ao longo de 18 dias, a Avenida dos Aliados será palco de conversas com autores, apresentações, lançamentos e sessões de autógrafos, mas também de concertos e sessões de cinema ao ar livre. 

O horário da feira é este ano uma vez mais alargado: de 2.ª a 6.ª Feira, a abertura é às 12h30; Sábado, Domingo, Feriados e Dia da Criança às 11h00. De Domingo a Quinta-feira, a Feira encerra às 23h00; Sextas, Sábados e vésperas de Feriado às 24h00. 

Visite o site da Feira do Livro para mais informações e, se puder, dê um saltinho aos Aliados.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Precisamente


«A cultura assusta muito. É uma coisa apavorante para os ditadores. Um povo que lê nunca será um povo de escravos.»

― António Lobo Antunes

domingo, 27 de maio de 2012

Roberto Bolaño «Estrela Distante»


Não tendo ficado completamente satisfeito com o último capítulo da enciclopédia de autores nazis americanos, A Literatura Nazi nas Américas, Roberto Bolaño expandiu um pouco a estória de Alberto Ruiz-Tagle, o aviador e poeta chileno.

A narrativa passa-se por volta de 1973, altura em que o ditador Augusto Pinochet tomou o governo chileno para substituir Salvador Allende, e é-nos contada por um indivíduo que conviveu com as mudanças sociais e políticas de um Chile em convulsão, Arturo Belano (quiçá um alter-ego do próprio Bolaño). Alberto Ruiz-Tagle apresenta-se como um charmoso, talentoso e enigmático poeta ligado à cultura germânica, dono de um atelier de arte onde convivem as gémeas Garmendia, Arturo e outros amigos que são referenciados ao longo da novela. Alberto torna-se mais tarde também ele num aviador artístico ligado ao regime fascista, acabando no entanto por ir viver para a Europa.

Desenhado com um carregado traço policial, a atmosfera desta obra é sinistra e as personagens revelam-se progressivamente complexas e frias, assim como a descrição dos ambientes onde a acção tem lugar. Apesar destes fortes argumentos, Estrela Distante desenvolve-se, como o próprio nome indica, de forma muito distante do leitor, faltando-lhe elementos de interesse que joguem a seu favor, que cativem o leitor como 2666 o consegue fazer.

Uma obra de interesse relativo para quem, como eu, pretende ler e completar uma trilogia bem trabalhada – disso não há dúvidas -, mas longe de ser interessante e indispensável.

SWR Porto Hard 2012


Os norte-americanos Cannibal Corpse e Exodus são os grandes destaques em cartaz na segunda edição do SWR Porto Hard 2012, evento a ter lugar no Hard Club, no Porto, entre os dias 17 e 18 de Junho. O SWR Porto Hard 2012 assume uma programação a dois dias que volta a acolher vários nomes de muito peso entre os adeptos das sonoridades mais extremas.

O death metal dos norte-americanos Cannibal Corpse encabeça claramente o primeiro dia do SWR PORTO HARD 2012. A influente banda de Alex Webster, Pat O’Brien, Paul Mazurkiewicz, Rob Barrett e George “Corpsegrinder” Fisher desloca-se ao nosso país para a apresentação em primeira mão de Torture, este que é já o seu 12.º registo discográfico e uma prova de que o grupo se encontra cada vez mais forte. Os portugueses Grog e Hunted Scriptum encarregam-se da abertura de uma noite dedicada ao death metal na sua vertente mais brutal.

O segundo dia do SWR PORTO HARD 2012 conta com a muito aguardada presença dos históricos norte-americanos Exodus com o seu thrash metal ao bom estilo da bay area. Os também norte-americanos Death Angel e os gregos Suicidal Angels completam um alinhamento definitivamente mais voltado para o thrash neste segundo dia de programação do SWR Porto Hard 2012.

Os preço dos bilhetes varia entre os 22€ por dia e os 40€ para os dois em regime pré-venda - no próprio dia passam a custar 25 e 50€, respectivamente, e podem ser adquiridos directamente à SWR inc. ou nos locais do costume.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Livros


«Sempre gostei de procurar livros, não quero saber onde estão, basta-me saber que existem.»
― José Luís Peixoto

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Poison the Well «You Come Before You»


Conscientes de que o hardcore punk pode e deve evoluir e também de que é melhor deixar uma marca única, a deixar um trabalho igual a muitos outros, os Poison the Well souberam recriar-se sensivelmente neste terceiro disco – ainda que já no anterior Tear from the Red fossem óbvias as diferenças em relação ao álbum de estreia.

Acusados de traição e ganância por parte de algum público mais afecto ao underground aquando da mudança da Trustkill para a Atlantic Records, uma subsidiária da Warner Bros, a verdade é que este grupo gravou aqui, creio eu, o seu melhor disco. Mais melódico por via da influência pop/rock, sobejamente mais compassado e mais cantado, atrevido até na inclusão de outros instrumentos que não guitarra, baixo e bateria, esta rodela alberga a primeira grande mudança post no hardcore dos norte-americanos.

Com temas que visam, sobretudo, a frustração e as relações, a harmonia e power chords simples das guitarras, a percussão mais trabalhada e relaxada e a voz aprimorada de Jeffrey Moreira exploram a beleza das sensações de ambientes que evocam a alegria e a paz de alma, ainda que na realidade o coração se encontre destroçado e distante. Muitos dos momentos aqui presentes poderiam perfeitamente constar num disco de baladas, especialmente se pudermos as vozes todas suaves e bonitinhas. Horns and Tails, uma das baladas do disco anterior, tem aqui seguimento em Sounds Like the End of the World, entre outras.

For a Bandaged Iris, o tema que merece mais destaque, mergulha no refrão orelhudo, harmónico e limpo, precedido de guitarras pesadas e coros curtos misturados com os berros zangados de Moreira, repetindo a fórmula algumas vezes ao longe de sensivelmente cinco minutos. Pode soar a canção demasiado simples ou a “factor Atlantic”, mas a verdade é que as coisas resultaram muito bem sem comprometer a integridade artística dos Poison the Well. 

Meeting Again for the First Time e Loved Ones (Excerpts from Speeches of How Great You Were, and Will Never Be Again), outros dois temas em destaque seguem a estrutura do tema anteriormente referido, A) The View From Here Is... B) A Brick Wall, por exemplo segue uma estrutura mais semelhante à qual o grupo adoptou no trabalho seguinte, Versions. E foi desta forma simples e fruto de muito trabalho que os Poison the Well escreveram um parágrafo só deles nas linhas do hardcore.

8.5/10

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Beastie Boys «Licensed to Ill»


«It is with great sadness that we confirm that musician, rapper, activist and director Adam "MCA" Yauch, founding member of Beastie Boys and also of the Milarepa Foundation that produced the Tibetan Freedom Concert benefits, and film production and distribution company Oscilloscope Laboratories, passed away in his native New York City this morning after a near-three-year battle with cancer. He was 47 years old.» - in beastieboys.com

Por detrás do sorriso de Adam Youch, mais conhecido por MCA, estava o mesmo miúdo que aos 22 anos fez parte deste divertido e altamente aclamado disco, um disco gravado por putos de boné e óculos de sol que parodiavam toda a cena do hip-hop norte-americano. Numa época onde tinha já se assinalava o declínio do punk e onde Madonna e o thrash metal moviam as massas de adolescentes e jovens, estes Beastie Boys tiveram a brilhante ideia de misturar, imagine-se, as rimas rápidas do rap com a rapidez do hardcore punk e os riffs de guitarra pesados do heavy metal, num estilo que basicamente não agradava por inteiro a nenhum destes movimentos. Rick Rubin e estes miúdos da cidade de Nova Iorque deixaram a estupidez, a acne e a paixão pela música falar mais alto e editaram o primeiro disco de hip-hop a entrar nos grandes tops norte-americanos.

Licensed to Ill, enfim, foi inúmeras vezes mal plagiado pela geração nu metal do final dos anos 90; foi por aqui que se perdeu o medo e as palas de misturar o beatbox com as guitarras pesadas. É daqui também daqui que uma festa só pode ser uma festa se forem tocados No Sleep Till Brooklyn e (You Gotta) Fight for Your Right (To Party!), não é? Apesar de desconhecerem que são temas da autoria dos Beastie Boys e que nem sejam sequer adeptos do hip-hop, tenho a certeza de que todos abanam a cabeça e pulam ao som das guitarradas eléctricas e dos refrões entusiastas e tão fáceis de memorizar. Longe de ser um disco maduro ou de frases onde impera a crítica social e a atitude política que tanto caracteriza o rap – é também por aqui que este grupo é mais que um conjunto de rappers -, esta obra é um verdadeiro prozac para o espírito mais deprimido, um convite à não disposição e ao riso instantâneo. É difícil não sorrir ao escutar o ritmo emulado dos jogos da velhinha Nintendo Entertainment System de Girls, não relaxar com o ritmo Havanesco de Slow Ride e ignorar o baixo pesadão e o desafio a três vozes de Time to Get Ill.

Intemporal e um dos verdadeiramente grandes discos do rock/rap, complicado é não gostar deste disco.

05/08/1964 – 04/05/2012.

8.5/10  

Julio Cortázar «A Volta ao Dia em Oitenta Mundos»


Não é um romance, nem um livro de contos, muito menos um livro de poesia ou uma colectânea de contos. É um pouco disto tudo e muito mais: é um conjunto de lições de vida.

Nascido em Bruxelas, em 1914, mas com nacionalidade argentina – e posteriormente também francesa -, Júlio Cortázar é um dos autores de língua espanhola mais reconhecidos a nível mundial e um dos expoentes da literatura latino-americana, de onde se ressalva sempre Rayuela e esta volta ao dia. Dedicou grande parte da sua vida à literatura e filosofia, de onde manteve sempre uma posição crítica perante aquilo que os media elogiavam, optando o autor por quebrar com o “establishment” literário, por via da sua narrativa moderna e invulgar. Ficou sobejamente famoso pelos seus contos e pela criação de cronópios, famas e esperanças, nomenclaturas que se referem essencialmente ao nosso modo de estar perante a sociedade: cronópios são os relaxados, famas aqueles são demasiado prudentes e tensos e as esperanças, bem essas são pessoas dependentes de outrem que vivem do medo.

A Volta ao Dia em Oitenta Mundos é uma divertida obra que se debruça por várias temáticas, de entre as quais a literatura, a política, a França, a Argentina, a pintura, a poesia e a música; neste trocadilho de palavras influenciado por Júlio Verne e o seu famoso livro A Volta ao Mundo em Oitenta Dias, Cortázar salpica uma narrativa marcada pelo humor – por vezes – corrosivo e também pela consciencialização perante as temáticas sobre as quais ele escreve, divagando quase sempre pela exultação do espírito cronópio e pela crítica aos famas (as esperanças não aparecem assim tanto) ao som dos grandes nomes do jazz norte-americano, movendo a caneta com a força dos punhos com que Sugar Ray Allen venceu os campeonatos de boxe e, claro, com aquela inspiração tipicamente argentina de Jorge Luís Borges. 

Extremamente bem escrito e quase sempre auto-biográfico, este livro romance/ensaio/crónicas/poesia/etc é uma forma diferente de ver o mundo através dos olhos de Julio Cortázar.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

domingo, 13 de maio de 2012

Tortoise «Millions Now Living Will Never Die»


Longe das luzes da ribalta e da fácil catalogação que a vasta maioria da música da actualidade sofre, este colectivo de Chicago explora a diversidade da música indie com a electronica e o jazz, entre outras sonoridades há mais de vinte anos. Mantendo um perfil discreto, mas de semblante alegre, estes Tortoise vivem de e para a música.

Tendo-se estreado em 1992 com Lonesome Ground na editora Thrill Jockey, o grupo não mais parou de criar e desenvolver uma sonoridade adversa às barreiras e imposições discográficas da grande indústria que tanto limita a criatividade musical em prol da estandardização do sucesso instantâneo. Em 1996 editaram este Millions Now Living Will Never Die, uma ode ao minimalismo, à intersecção e ao convívio de música bonita, honesta, experimental, ousada e, acima de tudo, algo que vai ficar marcado para sempre na alma de quem o escuta.

O grande destaque do disco é, sem dúvida, os vinte e um minutos da faixa de abertura Djed. Aqui a música flui livre e espontânea por diversos campos e imagens, por cruzamentos que o actual movimento de estilos que o post-rock tenta, sem sucesso, emular, estabelecendo um diálogo alegre e divertido com o consigo, o receptor de uma obra tão bem narrada. Os restantes temas são mais curtos (variam entre os dois minutos e meio e os cinco), mas igualmente interessantes; destacaria naturalmente o ritmo matemático e extremamente preciso de Taut and Tame, o minimalismo mais evidente do disco em Survey, com efeitos que lembram as noites ao som do canto dos grilos, o psicadelismo de Dear Grandpa and Grandma, sem esquecer o jazz mais elaborado e sentido do último tema.

De costas voltadas para os mass media, este conjunto de músicos norte-americanos viram no mar de música instrumental e qualquer coisa-post uma forma de fugirem à enfadonha música rotineira. Este trabalho em curso dos Tortoise levou aqui o mais importante pilar da obra.

9/10

sexta-feira, 11 de maio de 2012

João Moura «Nos Destroços de Um Naufrágio»


«Quem nunca viu um barco afundar-se no meio dos vendavais, da intermitência dos relâmpagos e da mais profunda escuridão, enquanto os que o povoam são vencidos pelo desespero que se imagina, esse não conhece os acidentes da vida.», Isidore Ducasse.

O jovem poeta João Moura, oriundo da cidade de Vila Nova de Famalicão, apresenta-nos uma viagem em barcos por vastos mares de poemas neste seu “debut” com o selo da editora Papiro. Esta colectânea poética aproveitada a partir do blogue que o autor mantém, Derivas de um Barco Ébrio, é banhada pela ideia da água que fertiliza o nosso mundo, de que no fundo todos somos náufragos de um barco – a vida – mas que temos a tendência de nos agarramos em demasia aos destroços que são inevitáveis e que fazem parte da nossa vivência, esquecendo-nos de viver e ver que há mais vida e outros portos onde atracar, que as feridas saram mais rápido se voltarmos a navegar, tal qual as palavras de Ducasse que João Moura cita ao início. Desde que saímos do ventre da mãe, a chamada zona de conforto na qual a psicologia tantas se debruça, que as pessoas se sentem destroçadas e fazem tudo por alcançar essa segurança.

Altamente influenciado por autores lusófonos e francófonos, tais como Fernando Pessoa, Al Berto, Herberto Helder, Arthur Rimbaud, Henri Michaux, Allen Ginsberg, Jack Kerouac, Chuck Palahniuk, estes destroços bebem muito do cinema, da música e da pintura, artes directamente homenageadas no poema Lua II; a música chega por vezes a ter um papel mais predominante neste registo e a escrita também ela ostenta uma musicalidade interessante. A espaços, surgem alguns textos em prosa – poucos – que deambulam pela actualidade do contexto social e abordam a temática do desemprego e o seu desespero inerente, sentindo-se aqui um pouco da frustração e o negativismo que marca em doses reduzidas um enorme desejo de viver e uma vontade de amar marcados por um tom coloquial, ainda que introspectivo.

Longe de ser uma obra complexa, a poesia de Nos Destroços de um Naufrágio é uma excelente proposta, franca e positiva, um mar de vida.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

«Wristcutters: A Love Story»


É uma das premissas de várias religiões e é algo que ainda se mantém, tantos milénios depois das suas profecias. Vida depois da morte é uma das características marcantes do budismo, por exemplo, sendo que cada ser reencarna após cada vivência cá no Universo; em Wristcutters: A Love Story, do realizador croata Goran Dukić, há sim a vida depois da morte, mas só para quem se suicida.

Após terminar o seu relacionamento com Desiree (Leslie Bib), Zia vê-se tão melancólico e destroçado que corta os pulsos e despede-se do planeta Terra. Não sendo propriamente uma reencarnação budista, Zia (Patrick Fugit) vai parar a uma dimensão desconhecida e exclusiva apenas a todos aqueles que tenham tirado a sua própria vida; aqui ele conhece Eugene (Shea Whigham), um jovem russo que morreu electrocutado a tocar guitarra e ambos partem à procura de Desiree, onde acabam por conhecer Mikal (Shannyn Sossamon) uma jovem que precisa desesperadamente de falar com a entidade superior do universo, visto que ela não se suicidou. Entretanto, estes três amigos chegam ao acampamento do excêntrico Kneller, interpretado por nada mais, nada menos que pelo cantor Tom Waits. No acampamento todos se apercebem que têm poderes especiais, à excepção de Zia, que se vê apaixonar por Mikal.

Num drama com bons toques de humor, fica no ar a ideia de que todos podem ser feliz mesmo na morte e que esta nunca é a solução para nenhum dos problemas, por mais difíceis que estes se nos apresentem. A interpretação por parte de todo este elenco é boa, no entanto destacaria Shea Whigham - ele que nos dias de hoje é o xerife da Atlantic City de Boardwalk Empire –, especialmente nos momentos mais cómicos em que, por exemplo, aplica um boa sapatada ao irmão que se quer matar e lhe pergunta o porquê de continuar a viver e, claro, Tom Waits que representa uma espécie de figura divina nesta película e que sou da opinião de que deveria apostar mais nesta área do cinema.

Wristcutters: A Love Story apresenta-se como um filme interessante de humor seco e moderadamente criativo onde o poder da vida e do amor se apresenta como a mais valia das nossas vidas.

Argumento: Etgar Keret, Goran Dukić
Realização: Goran Dukić

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Roberto Bolaño «A Literatura Nazi nas Américas»


Definitivamente, este não é o melhor romance para entrarmos no mundo literário do chileno Roberto Bolaño, autor do best-seller 2666. Este seu segundo romance, publicado em 1996, roça os extremos do amor e do ódio em quase todos os leitores e críticos com quem tive contacto: ora é um bocejo, ora uma grande obra-prima de um génio.

Basicamente, Bolaño decidiu escrever um ataque à literatura americana (latina e norte) no particular e aos escritores no geral. Neste romance estão compilados os maiores autores da extrema-direita de todo o continente americano, e ainda que sejam todos fictícios, são-nos apresentadas ligações com escritores que verdadeiramente existiram, como é o caso do beatnik Allen Ginsberg, e recorrência constante a alguns do maiores poetas e romancistas da Literatura. Ainda que todas estas personagens sejam fictícias, Roberto Bolaño fantasticamente cria factos – se lhes pudermos chamar assim – e eventos que sustentam a sua existência, de tal forma que, não soubéssemos que todos estes escritores são falsos, certamente iríamos investigar sobre os mesmos e as suas obras.

Elaborado com um humor muito próprio e com estórias que realmente são tão mirabolantes sobre o império Nazi, as dezenas de personagens desta obra são quase todas narcisistas, egoístas e… plagiadoras. Poetas e romancistas unem-se no roubo de ideias e cópias descaradas dos grandes mestres da escrita universal, auxiliados sempre pela política nazi, em busca de uma glória que a bom dizer, nunca os visita: quase todos morrem ou de mortes trágicas ou estúpidas.

Longe, muito longe de ser um livro “simpático”, agradabilíssimo muito menos, esta literatura fascista das Américas ocupou-me uma tarde porque gosto mesmo de Bolaño, caso contrário - e para quem nunca teve contacto com o chileno – O Terceiro Reich é uma obra francamente mais recomendada.