terça-feira, 29 de março de 2011

Chuck Palahniuk «Pygmy»


Chuck Palahniuk há muito que ficou conhecido por ser um autor difícil de criticar por parte dos críticos. Ou porque não gostam dele, ou porque não percebem os livros, a verdade é que o autor vai criando uns grupos de críticos que o odeiam profundamente. Ser norte-americano e criticar os valores capitalistas, consumistas, anti-laicistas e a democracia obsoleta pela qual aquele país se rege, não é tarefa fácil. O culto anti-Palahniuk vai ganhando adeptos que começaram a juntar-se na altura em que o autor editou Clube de Combate, alvo de censura e ferozes críticas conservadores e religiosas.

É com felicidade que também se pode constatar que o grupo de seguidores de Palahniuk é enorme, muito enorme. Desde que David Fincher decidiu adaptar o primeiro romance de Palahniuk ao cinema, o culto aumentou exponencialmente – não é à toa que o site do autor é conhecido como “the cult”. Pygmy, de todo o vasto catálogo de Palahniuk, será talvez aquele de maior dificuldade em termos de sua leitura e aquele pelo qual não se deve começar a ler primeiro. Passo a explicar: a linguagem utilizada neste livro aparenta ser infantil – é-o, em determinados momentos –, e mal construída gramaticalmente e com um número muito grande de palavras estranhas e mal empregues. Exemplo: “Para registo oficial, família americana inventar plenitude de rótulos absurdos para cristianizar filha primogénita”. Deve ser lido da seguinte forma: “Na realidade, as famílias americanas inventam muitos nomes de baptismo absurdos para as suas filhas”. Este exemplo não traduzido está presente em todos os momentos da obra.

O nosso narrador é o Agente 67, apelidado de “Pigmy” (em português “pigmeu”) devido à sua baixíssima estatura. "Pygmy" é uma criança de 13 anos oriunda de um país totalmente desconhecido e de carácter totalitário, aparentemente comunista – durante o livro há citações e referências, a Mao Tse-Tung, Pinochet, Kim Jong-Il, a… Hitler e outros ditadores - que faz parte de uma organização terrorista chamada The Havoc – similar ao Projecto Destruição de Clube de Combate. Cada agente é inserido numa família norte-americana, apresentando-se como aluno de programas de intercâmbio estudantil, com o objectivo de  tomar controlo do país, destruindo o sistema capitalista. Os agentes masculinos devem também engravidar as mulheres norte-americanas e as agentes femininas devem ficar grávidas de norte-americanos.

O nosso agente 67, de aspecto franzino, é na realidade um especialista em artes-marciais e mortal na hora de assassinar – para tal foi treinado. Ele é dotado de golpes que incluem o “Pontapé da Morte Voador Gigante da Cegonha” e a “Manobra de Morte Rápida da Cobra Atacante” e em determinadas cenas utiliza estes e outros golpes saídos de um velho filme chinês revisitado por Tarantino. “Pygmy” vive com a família Cedar, que aparenta ser perfeitamente normal, constituída por Pai Vaca, Mãe Galinha, Irmã Gata e Cão Porco Irmão (pai, mãe e filhos). Como se de um episódio de South Park se tratasse, Pygmy é uma hilariante e envolvente sátira ao chauvinismo, à homofobia, à religião e ao consumismo capitalista dos Estados Unidos da América. Ao ler Pygmy e ver South Park, é impossível não nos lembrarmos de Team America ou dos Simpsons. Ao longo de todos os capítulos, há um relatório que “Pygmy” escreve para enviar para o seu país de origem _____ na cidade de _______ na noite de __________. 

Escriba operativo eu insere recomendação alta nesta nota despachante baseado em sujeito masculino do país estrelas pálidas no mar e riscas comunistas. Observação nos cadernos Choke – Asfixia, Monstros Invisíveis e Snuff de importâncias grandes ao mesmo tempo também. 

Nota: esta crítica foi baseada na leitura da obra no seu idioma original, o inglês. 

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