sexta-feira, 13 de maio de 2011

Chuck Palahniuk «Rant»


A ascensão que Chuck Palahniuk teve desde 1996, altura em que publica o seu primeiro romance Clube de Combate, é de louvar. Desde então, já foram publicadas cerca de onze obras, traduzidas em várias línguas, perfazendo uma média bem interessante de insanidades e revoltas contra a cultura pop, política, consumismo, materialismos vigentes.

A vida de Buster Casey, a personagem principal do livro e também conhecida por Rant, é contada sob a forma de uma biografia oral através de vários testemunhos de personagens que conviveram com ele. Logo nas primeiras páginas é-nos dada a informação de que Rant morreu e, a partir daqui, vamos ouvindo o que os seus pais, amigos e inimigos de infância, professores, colegas de “Party Crashing” e Green Taylor Simms têm a dizer sobre a infância e morte do miúdo que desafiava o medo e a dor.

De facto, Rant não teme a dor física ou psicológica, ele é-nos descrito como alguém que vai adquirindo um sistema de protecção contra aranhas, cobras, escorpiões, formigas, coiotes e outros animais perigosos. Rant não tem medo de enfiar uma mão ou um pé numa toca e ver que tipo de animal lhe vai morder e se o veneno pode pôr em risco a sua vida. Ao fim de variadíssimas acções do género, o seu corpo torna-se em algo composto por cicatrizes de todo o tipo de animais; se ele consegue aguentar estas feridas masoquistas, então conseguirá perfeitamente suportar qualquer tipo de emprego mal pago, casamento, serviço militar ou outro aspecto que poderia eventualmente tornar a sua vida num inferno. Mais: Rant tem um olfacto tão apurado que consegue, através de tampões e preservativos usados ou hálito, identificar uma pessoa e o que ela ingeriu. E nunca falha.

Os dois aspectos fulcrais do romance são o “Party Crashing” e as viagens através do tempo. O “Party Crashing” é uma actividade nocturna que se caracteriza pela decoração de carros, das mais bizarras formas e feitios, com o objectivo de colidirem uns contra os outros, fazendo crer aos demais que observem os choques de que o acidente ocorreu de facto, de que foi real e não uma encenação. Durante estes eventos nocturnos, os “party crashers” transcendem-se ao nível de deuses, esquecendo por completo as suas vidas aborrecidas e as desgraças que daqui inerem. Isto soa familiar a quem já leu Clube de Combate, pois o efeito final procurado é o mesmo: durante os combates todos se esqueciam dos seus empregos aborrecidos e dos catálogos de móveis do IKEA, durante cada combate todos eram iguais, felizes e euforicamente poderosos. Tal como os condutores destes carros.

Determinados acidentes podem resultar em viagens temporais, também. Em Rant e durante o “Party Crashing”, cada embate é encarado como uma forma diferente de estar na sociedade, no quotidiano, e algumas das personagens que relatam a vida de Rant crêem que é possível voltar atrás no tempo para matarem os seus pais e se imortalizarem, ou então, tendo relações incestuosas para se tornarem em algo divino. Neste aspecto, a imaginação de Palahniuk torna-se um pouco confusa e carente de outro tipo de elementos para sustentarem estas viagens temporais. Rant, o seu pai e Green Taylor Simms são referenciados como a mesma pessoa – de acordo com os relatos de alguns –, como se Simms tivesse viajado atrás no tempo e fosse o pai do pai de Rant, o pai de Rant e… Rant. Mas como podem estes três indivíduos coexistir?

A resposta a esta questão está certamente agendada para a parte dois e três de Rant, visto que esta obra foi escrita a pensar numa trilogia. O Sr. Palahniuk surpreendeu-me mais uma vez com esta estória bizarra e mirabolante, e por isso, lhe estou mais uma vez grato. Para este ano está previsto o lançamento de Damned, sem que não haja ainda datas para a continuação desta obra.

Nota: esta crítica foi baseada na leitura da obra no seu idioma original, o inglês.

4 comentários:

  1. Seems pretty interesting!

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  2. as tuas críticas são brilhantes! já li muitos e bons livros graças a vocemecê, thanks

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  3. Olá, John. Fico feliz que as minhas críticas sirvam para algo bom... leitura de livros :)
    O que andas a ler, então?

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