quarta-feira, 29 de junho de 2011

Monica Drake «Clown Girl»


Monica Drake é mais uma autora que conheci graças a Chuck Palahniuk, o qual elegeu Clown Girl o melhor romance de 2007 e apadrinhou este livro com uma introdução e rasgados elogios. A autora natural do estado de Michigan vive em Portland, Oregon, e escreve regularmente para o The Oregonian, The Stranger, e o Portland Mercury. É vista por Palahniuk como uma “arqui-inimiga” da literatura, no bom sentido, claro.

O romance de estreia desta autora foca-se na integridade e na descoberta dos valores intrínsecos que todos nós possuímos, valores esses que por vezes estão escondidos e nunca descobertos devida a pressões de ordem social. Na fictícia cidade de Baloneytown (“baloney” aqui não é um tipo de carne. “Idiotice” ou “falsidade” perfilam-se como os termo mais correctos) habita uma Nita, uma rapariga que vive a sua vida como um palhaço profissional com o nome artístico de “Sniffles”. Nita vive de pequenos espectáculos – biscates, na maioria – que mal servem para lhe pagar a renda da casa que partilha com Herman, um vendedor de droga. Além disso, e porque ama o seu namorado, Rex Galore, Nita junta todos os dólares para lhe financiar os estudos numa escola de palhaços em São Francisco.

Ao constatar que os espectáculos que lhe oferecem não chegam para pagar as despesas, a nossa personagem principal entra em espiral descendente, vende-se ao corporativismo e é-lhe feita uma oferta para servir de palhaço prostituta. Monica Drake baseou-se na sua experiência pessoal enquanto palhaço profissional que se vendia ao corporativismo até ao dia em que decidiu pôr um travão na perda de integridade profissional e abandonou as inaugurações de restaurantes “fast food”. Tal como Monica, Nita acredita na integridade artística da vida dos palhaços, no entanto, a sua vida piora a cada momento e é Jerrod, um polícia, que a livra de sarilhos maiores e que ao mesmo tempo serve de equilíbrio na sua vida. 

Nita tem uma capacidade única para utilizar aquela linguagem tipicamente optimista dos palhaços para descrever as amarguras que lhe vão sucedendo, uma atrás da outra, nomeadamente a perda dos pais e do bebé, o ataque cardíaco e os acidentes do ofício, recorrendo frequentemente também ao humor de Charlie Chaplin e W.C. Fields. Na derradeira tentativa de recuperar a dignidade artística, “Sniffles” desenvolve um número artístico baseado em Leonardo da Vinci e na Metamorfose de Franz Kafka; Nita quer representar a transformação de Gregor Samsa em insecto, a sua própria metáfora para o que acontece na sua vida enquanto ser humano.

Clown Girl é uma obra de elevado nível que ganha gera emoções fortes através do sorriso e humor que Nita usa para contornar as catástrofes pessoais que deixariam qualquer um de nós de rastos. O romance é, nas entrelinhas, a esperança da fuga e sobrevivência à pressão social e queda do ser humano sobre o qual Kafka brilhante e traumaticamente se debruçou.

Nota: esta crítica foi baseada na leitura da obra no seu idioma original, o inglês.

2 comentários:

  1. Só de ter o seal of approval do Chuck dá já vontade de ler!

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  2. Foi o que eu fiz! Pena que a Monica Drake ainda só tenha lançado este livrão.

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