terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Mastodon «The Hunter»


Moby Dick, mares, czars, montanhas, o Homem Elefante, fogo e outros temas fazem parte do universo de fantasia alucinante deste quarteto georgiano, assim como suicídios e ataques cardíacos. Skye era o nome da irmã de Brann Dailor que cometeu suicídio, daí que Crack the Skye, o anterior disco, tenha sido escrito em honra dela, através de uma viagem intemporal no espaço. The Hunter é dedicado ao irmão de Brent Hinds, vítima de uma paragem cardíaca enquanto caçava. 

Depois da experiência ultra psicadélica e exageradamente progressiva do anterior disco, a banda cria aqui um disco muito mais directo de treze temas que remetem para a era Remission Blood Mountain, estabelecendo uma ponte entre toda a sua discografia. O disco arranca com Black Tongue (baseado nas línguas dos papagaios que são precisamente pretas) e a dinâmica instrumental tal qual os Mastodon nos habituaram numa década de existência: muitos riffs stoner, solos habilidosos, shred empolgante, baixo a bombear sangue para o coração musculado e uma bateria cuja batida é enfeitada com deliciosos pormenores ao bom estilo psicadélico da escola de Bill Ward, John Bonham ou Nick Mason, entre outros históricos. A juntar ao instrumental e se considerarmos que a voz não é um instrumento, não se fazem muitos discos de rock ‘n’ roll com vozes tão coesas e harmoniosas como as que se fazem ouvir das gargantas destes quatro músicos. É um dos pormenores que, enquanto banda mainstream e praticante de música alternativa, a vai distanciando da concorrência.

As vozes limpas são intercaladas alguma rispidez que a adrenalina que Blasteroid e a pujança de Dry Bone Valley (dois dos melhores temas do disco) impõe, ainda que na maioria dos temas as vozes soem polidas e orelhudas, fruto da excelente produção a cargo de Mike Elizondo. Há aqui vários temas a destacar. Há aqui treze temas a destacar e uma descrição faixa a faixa é desadequada. Scott Kelly (Neurosis) empresta a voz a Specterlight, aquela que é a faixa que mais alusões faz a Remission e Call of the Mastodon, os teclados tão, mas tão space rock intrometem-se no meio de Bedazzled Fingernails, os dedilhados das guitarras acústicas ganham um novo significado com Creature Lives, Hunter e The Sparrow – aquelas que, na minha opinião, são as canções mais épicas do disco. 

Liricamente, este registo reforça a ideia de que apesar das tragédias e horrores da vida, é possível manter sempre um grande sentido de humor e exercer o direito ao sarcasmo: «I killed a man because he killed my goat / I put my hands around his throat» (Curl of the Burl). Retomando o tema do rock mainstream e a sua qualidade, os Mastodon não têm absolutamente culpa alguma por venderem tantas cópias e serem tremendamente populares; aconteceu o mesmo com os Nirvana: não foram eles que foram ter com o mainstream, foi precisamente o contrário – note-se que entre os dois grupos não existem grandes similaridades em termos de sonoridade, exceptuando o amor pela música. 

Sério candidato a melhor disco do ano, The Hunter cresce a cada nova audição pois tem aquilo que falta a muitas bandas que tentam emular o som desta banda: originalidade e capacidade de escrever um disco homogéneo. Além do mais, serve de prova assim como a música e os músicos se podem reinventar sem comprometerem a integridade, derrubando barreiras e preconceitos rumo ao topo.

9/10

4 comentários:

  1. Nice! Muito bom o àlbum!
    Não sei se viste a minha crítica:

    http://www.imagemdosom.com/index.php/albuns/criticas-de-albuns/item/792-mastodon-the-hunter-review

    cheers!

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  2. Hey, Sean! Sim, tinha lido a tua crítica há algum tempo e, mais uma vez, escreves muito bem. Estive a ler umas entrevistas na net e reparei que o "remission" não é conceptual, tal como este. De qualquer das formas, este está no mesmo patamar do Blood Mountain, que é o meu favorito...

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  3. Porra velho, até que enfim um blog ducaralheo.

    Achei o blog catando coisas do chuck palahniuk.

    Vários assuntos interessantes meio lado B, meu cult, um misto foda.

    Não tô ligado nesse som, vou dar uma pesquisada.

    Falou!

    Ps: Se não leu ainda, dá uma conferida no Monstros Invisíveis do Chuck, porque os outros livros tipo No Sufoco e Club da luta o cara acha mas acima de 100 reais.

    Palavra Vadia:
    http://palavravadia.blogspot.com/

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  4. Olá, Jim

    Invisible Monsters está aqui na calha para ser lido, mas obrigado por mo lembrares. Não sei bem que tipo de música ouves, mas este "HUNTER" está muito bom, espero que gostes.

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