quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Yoko Ogawa «A Magia dos Números»


Nunca gostei muito de Matemática e também não andei de mãos dadas com os números, o que não me impediu de adquirir e desfrutar de um bonito romance que me recordou os teoremas, as raízes quadradas e os números primos. O que mais me chamou a atenção foi o facto de esta escritora ter sido galardoada com prémios literários importantes no Japão - como o Yomiuri ou o Akutagawa – e, claro, as palavras de Paul Auster na capa do romance: «Altamente original. Infinitamente encantador. E sempre tão comovente.».

A narrativa passa-se em 1992 e centra-se na vida de uma mulher de limpezas, no seu filho Root (de raiz quadrada) e na relação de amizade e ternura que estabelecem com um brilhante professor de matemática (o Professor) que devido a um acidente de viação em 1975 que lhe afectou severamente o cérebro, deixando-o com uma “autonomia cerebral” de oitenta minutos, findos os quais, este homem de 68 anos deixa de se lembrar das coisas. Contratada pela cunhada do Professor, a narradora consegue criar uma relação pessoal e de admiração por um verdadeiro génio dos números, vencedor de prémios importantes no Reino Unido e no Japão, que lhe transmite a ela o fascínio e a beleza dos números. Mesmo quando – aqueles que, como eu, nunca gostaram muito de Matemática - acreditamos que as equações, somas, multiplicações e outras operações que aprendemos na escola não têm utilidade, Yoko Ogawa logra explicar-nos que não é bem assim; os números estão em toda a parte e andam connosco de mãos dadas.

O livro cresce pela forma como a narradora enceta uma relação que vai para além da profissional, transgredindo as regras da empresa de limpezas, e atinge uma bonita amizade, particularmente entre o Professor e Root, o seu filho. Root, tal como o Professor, é um adepto fervoroso da equipa de basebol Hanshin Tigers, conjunto de onde fez parte Yutaka Enatsu - um dos mais famosos e talentosos jogadores da modalidade – que se mudou para os Nankai Hawks em 1975, facto que é alheio ao Professor. Root e a mãe têm a difícil missão de esconder esse facto do Professor, fazendo-o crer que Enatsu ainda faz parte da equipa e, mesmo quando vão ao estádio apoiar os Tigers ou quando ligam a rádio para ouvir o relato, este jogador está lesionado ou não sai do banco. É notável e comovedor o respeito e amizade que estas três personagens criam entre si, assim como a mudança que a vida de um génio amnésico sofre com a chegada de uma empregada doméstica e um rapaz de 10 anos com uma testa achatada que faz lembrar a raiz quadrada.

As cerca de, sensivelmente, duzentas páginas não são no entanto suficientes para tornar a narrativa ainda mais emocional, mais forte, a ponto de tornar o romance memorável. A meu ver, é esse o único ponto fraco de A Magia dos Números, de onde ressalvo a qualidade da escrita poética e serena que pauta este registo, em consonância com as grandes qualidades humanas e altruístas das personagens.  

2 comentários:

  1. Já o livro também. Gostei muito das personagens. É uma história cativante. Maravilhosamente escrito, possivelmente traduzido (não seria capaz de ler am japonês para poder corroborar). Bom, mas o que eu queria dizer, é que não é "o livro da nossa vida", mas é um livro capaz de despertar sentimentos, que nos faz pensar, e que mostra a matemática de uma forma que não costumamos vê-la.

    ResponderEliminar
  2. A tradução foi feita a partir da versão francesa, mas pareceu-me muito competente. Exacto, não é o tal grande livro, mas está num bom nível.

    ResponderEliminar