domingo, 1 de maio de 2011

«O Wrestler»


Apesar de ter tido um grande desempenho e algum destaque em Sin City - Cidade do Pecado, em 2005, creio que todos davam Mickey Rourke como morto para o cinema, condenado a desempenhar papéis pequenos e secundários para o resto da sua carreira. Eu próprio pensava isso, tendo especial atenção ao facto de que a Rourke não lhe estavam a ser atribuídos papéis principais em bons filmes, e também pelo facto de que tinha participado no pindérico Duplo Team, com Jean-Claude van Damme e Dennis Rodman.

Eis então que Darren Aronofsky (realizador que já nos ofereceu A Vida não É um Sonho (Requiem for a Dream) e – recentemente - Cisne Negro) decide fazer não só o filme da sua vida, como também o da de Rourke, através de um filme onde é utilizada uma balança desnivelada e com um só peso: o drama. Mickey Rourke interpreta o papel de Randy “The Ram” Robinson, um “wrestler” cujo pico da sua carreira se deu há duas décadas atrás, em 1989, num combate épico contra The Ayatollah. Nesses dias, Randy era uma autêntica celebridade.

Como em tudo na vida, a fama é efémera e Randy leva agora uma vida precária como trabalhador num supermercado, contando as notas para poder pagar a renda e as substâncias dopantes que lhe permitem, por umas horas nos fins-de-semana, ser o que foi no passado: um “wrestler”. É notória a satisfação na cara de Randy sempre que este sobe ao ringue e enfrenta outros lutadores, enquanto lhes aplica os seus truques e habilidades especiais. No entanto, e apesar de todos os combates serem previamente encenados, todos os lutadores se magoam propositadamente de forma brutal em nome do espectáculo. Randy não existe: a felicidade chega apenas na pele de “The Ram”.

No entanto, e para gáudio da nossa personagem principal, a sua vida pessoal sofre uma ligeira alteração quando numa visita a uma casa de “strip tease”, conhece a bela Cassidy (Marissa Tomei). À medida que ambos se conhecem, Cassidy incentiva Randy a visitar a sua filha Stephanie (Evan Rachel Wood) e retomar uma relação de pai-filha que há muito estava disfuncional e sem comunicação entre ambos. Aronofsky capta na perfeição a situação tensa que existe entre um pai que abandonou a sua filha e que agora, passados muitos anos, a tenta recuperar. Os momentos mais alegres do filme dão-se precisamente nas cenas em que ambos passam juntos, recuperando o passado e tentando emendar o presente e o futuro.

A situação de Randy agrava-se quando no final de um combate, este tem um ataque cardíaco, ficando em risco de vida e expressamente proibido combater. Mesmo assim, o amor à modalidade é tal que dias após a cirurgia, o nosso lutador regressa ao ginásio e às corridas nas pacatas florestas de New Jersey. A solidão, o desespero e a precariedade da vida de Rourke são expostas de uma forma crua e dolorosa para os olhos.

Não obstante os problemas de saúde e as boas relações com Cassidy e Stephanie, é-lhe comunicada a oportunidade de reeditar o famoso combate de 1989 com The Ayatollah. Se aceitar, pode morrer. Se rejeitar, viverá para sempre miserável, pois o "wrestling" e "The Ram" são tudo na sua vida. O Wrestler explora os aspectos da solidão e desespero humano e tudo aquilo que conseguimos eventualmente encontrar dentro de nós para dar a volta a essa fatalidade. A cena final é das mais emotivas e mais belas a que tive a oportunidade de assistir num filme que já revi mais que uma vez e que hei-de continuar a fazê-lo. Obrigado, Mickey Rourke. 

Título original: The Wrestler.
Realizado por Darren Aronofsky. Escrito por Robert D. Siegel.
Produzido por Wild Bunch, Protozoa Pictures, Saturn Films e Top Rope.

2 comentários:

  1. acho que vou ver isso...

    btw,
    http://ohibernaculo.wordpress.com/

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  2. Hey, ohibernaculo. Fazes bem em ver o filme, está muito bom. Vou dar uma vista de olhos ao teu blog :)

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