quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

John Wray «The Right Hand of Sleep»


Este é um daqueles romances que tem mais que argumentos para figurar na lista dos grandes clássicos da Literatura, ao lado de Kafka, Thomas Mann, Tolstoy e outros que ainda hoje são lidos e, obviamente, referenciados. Nascido nos Estados Unidos da América - Washington D.C. em 1971 -, John Wray possui também nacionalidade austríaca, tendo-se estrado com este romance assinalável há cerca de onze anos, ao qual se seguiram Canaan’s Tongue e Lowboy.

Situado nas convulsões que envolveram a Áustria na Primeira e Segunda Guerra Mundial, este registo retrata a vida de uma Áustria rural e o cair da classe burguesa e nobre, conquistada pelo Reich alemão. Oskar Voxlauer, o protagonista, oriundo da grande burguesia austríaca, é enviado em 1917 para a frente da batalhada de Isonzo, que opôs o império austro-húngaro contra os italianos, acabando por desertar e ir viver para uma Ucrânia dominada pela revolução bolchevique. Aqui, e já depois de ter passado um mau bocado, enfrenta represália social, na medida em que é visto como um fascista imperialista austríaco. Apesar disso, Voxlauer apaixona-se por uma jovem burguesa ucraniana e passam ambos a viver da plantação de couves e beterrabas, no conforto de um lar robusto e que relembra à personagem principal o bem-estar que tinha na vila de Niessen, onde o pai era uma grande compositor de peças clássicas e a mãe uma das damas mais respeitadas do sul austríaco.

No entanto, a revolução soviética atacou a burguesia, desalojando todas as famílias que possuíam pouca ou muita fortuna, enviando-as para campos de concentração onde foram escravizados e explorados até ao tutano, restando-lhes apenas o acreditar na sobrevivência; neste período, a amada de Voxlauer acaba por sucumbir aos abusos comunistas, deixando-o destroçado e motivando-o a regressar ao seu país natal. Aqui, vinte anos passados, ele não é bem visto e a sua família caiu na ruína: o pai suicidara-se com um tiro de caçadeira na cabeça e a mãe tratava da lide doméstica. Resta-lhe o trabalho duro da caça e supervisão/criação animal que o amigo judeu Ryslavy lhe oferece. Numa dessas caças, Voxlauer acaba por disparar sobre si mesmo, ferindo-se gravemente, contando com o auxílio e guarida de Else, uma bonita senhora que lhe ressuscita a vontade de amar. O amor de ambos será determinante para que as suas forças não lhes faltem, pois a Áustria é neste período anexada ao Terceiro Reich.

Dono de uma escrita enraizada na poesia, Wray narra a acção de forma sumptuosa e sóbria, adjectivando com uma calma e beleza poderosas a sociedade do início/meados do séc. XX e a austeridade e queda da Áustria, outrora potência mundial e líder nas várias artes. A descrição dos rios, lagos, bosques e florestas – enfim, de toda a natureza - é das mais belas que se podem encontrar num romance de um jovem escritor neste novo século. O sofrimento humano que Voxlauer e os que o rodeiam enfrentam, a pobreza sócio-cultural e também a queda dos valores humanistas descrita aqui relembra, de facto, obras de grandes autores clássicos. Extremamente recomendado.

Nota: esta crítica foi baseada na leitura da obra no seu idioma original, o inglês.

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