domingo, 1 de setembro de 2013

Maria O. «A Violação das Mulas»



Por vezes, nem sempre todos os livros com palavrões e calão são interessantes. Os impropérios e a linguagem de rua podem e devem ser utilizada, mas têm a sua hora e local, saber empregá-los convenientemente acaba por ser mais difícil do que o que parece.

Irvine Welsh fá-lo extremamente bem, assim como a geração Beat o fez no passado, mas o mesmo não se pode dizer de Maria O., escritora  que «nasceu em Vila Nova de Gaia há mais de 20 anos. Tem escrito muito. Ainda está viva» e sobre a qual nada mais se sabe. Ora, o intuito desta obra seria fazer  «um retrato do cu da Europa: Portugal no seu melhor», «um guião à la Quentin Tarantino dos velhos tempos, mas escrito por uma portuguesa», «a história de uma vila portuguesa e da polémica criada em torno de uma escultura. Políticos corruptos, falsos moralistas, promiscuidade e reviravoltas surpreendentes num livro irónico e divertido.»

A sério?

Vamos às personagens. Temos Quim Tiliano Zibeta, Isaac Zibeta, Possidónia, Zimbelina, Deivid Uva, entre outros, e aproveito para perguntar o porquê de não haver o Quim Estacionâncio, o Fernando Rocha ou o Zé Corninho. A única explicação para estes “bizarros” nomes de pessoas (?) será que a obra se passe num principado/república das bananas recente, onde os habitantes possuem estes apelidos.

Pois.

A estória desta obra anda à volta das aventuras e desventuras destas personagens que se envolvem em grandes orgias.

A obra é tão extravagante e vanguardista, que podemos ler nas primeiras páginas um exemplo de pura literatura transgressiva em modo low cost, uma espécie de Marquis de Sade castrado: «Zibelina acabara de parir e tinha leite nas mamas. Quim Tiliano Zibeta, o homem cujo esperma atingiu o supremo, e o único aceitável, propósito para a sua líquida e incómoda existência num rápido encontro com um óvulo da minha mãe (…) observava há já tempo considerável o modo como a sua robusta empregada doméstica refletia no rosto a atmosfera húmida e cansada daquela tarde de primavera. Na verdade, o que o fascinava naquele instante (…) era a maneira hábil como Zibelina se inclinava sobre o fogão, limpando-o apenas com uma mão, enquanto a outra segurava um dos seus seios, inchados sob a bata, a querer fugir.– Estás a segurar porquê? Vai cair?– Têm muito leite. Às vezes dói.»

Este é dos parágrafos mais longos e coerentes presentes nesta obra.

Perguntei-me, enquanto lia entediado esta obra, se isto é mesmo publicado pela Eucleia, a editora que nos traz romances nórdicos com qualidade. E é mesmo.

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