domingo, 23 de janeiro de 2011

Irvine Welsh «Trainspotting»


Publicado em 1993, Trainspotting foi o romance que tornou Irvine Welsh num dos mais promissores e talentosos escritores do actual Reino Unido e também da literatura a nível mundial, de tal forma que, três anos volvidos após a sua publicação, a obra foi adaptada ao cinema por Danny Boyle, aumentando exponencialmente o culto à volta de Welsh.

Situando-se temporalmente nos anos oitenta e geograficamente na fria Leith de Edimburgo, Trainspotting narra as peripécias, o niilismo, o mal-estar e a impotência mental para dar a volta à queda social, política e económica de uma Escócia remetida à escravidão do governo de Thatcher. Spud, Sick Boy, Begbie e Mark “Rents” – a nossa personagem principal – são o núcleo duro de um grupo de jovens nascidos na década de sessenta que não buscam a glória, a fama, o dinheiro ou a realização pessoal, por assim dizer; o objectivo de vida de cada passa pela droga no geral, heroína no particular, pelo álcool, por não pensar, por pensar em não pensar, pela apatia, pelo viver hoje e não no amanhã, pelo punk rock de Iggy pop, o psicadélico de Frank Zappa e – mais uma vez – pelo abuso maciço de droga e álcool. 

O romance é narrado através do ponto de vista de cada personagem, por estórias que se vão cruzando todas entre si, devidamente (d)escritas com uma forte carga violenta e sexual e sem qualquer tipo de linearidade. A linguagem é rude, a violência de Begbie é gratuita e sempre sem qualquer motivo – o importante é partir narizes, apenas isso -, o número de canecas de cerveja e outras bebidas ingeridas ao longo do livro é elevado e quantidade de heroína que perfura as veias é constante. Estar sóbrio não passa pela cabeça de ninguém: estar consciente durante a depressão escocesa que assolou os anos oitenta dói e a única forma de abstracção passa por atingir um outro nível. O nível irresponsável e inconsciente dos “chutos”, por exemplo.

Esta e toda a obra de Welsh oferece semelhanças com as de J.G. Ballard, Chuck Palahniuk ou Anthony Burgess – entre outros -, quer a nível temático, quer na intensidade com que as cenas são narradas. É um livro chocante, maduro e essencial, escrito por alguém que viveu de facto o que nele está escrito.

9 comentários:

  1. muito bom mesmo... o livro e o filme do Danny Boyle! É chocante todo o enredo e tem o seu que de desconcertante...
    "And the reasons? There are no reasons. Who needs reasons when you've got heroin?"

    bom blogue, continua...

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  2. Olá, zoom. Obrigado pelas palavras :) O livro é, na minha opinião, infinitamente superior ao filme. Não consigo perceber, por exemplo, como é que a Diane tem um papel tão em destaque ou porque é que aparece no filme, quando no livro mal se fala nela.

    Este livro é uma lição de vida!

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  3. Choose life. Choose a job. Choose a career. Choose a family. Choose a fucking big television, Choose washing machines, cars, compact disc players, and electrical tin openers. Choose good health, low cholesterol and dental insurance. Choose fixed- interest mortgage repayments. Choose a starter home. Choose your friends. Choose leisure wear and matching luggage. Choose a three piece suite on hire purchase in a range of fucking fabrics. Choose DIY and wondering who you are on a Sunday morning. Choose sitting on that couch watching mind-numbing sprit- crushing game shows, stuffing fucking junk food into your mouth. Choose rotting away at the end of it all, pishing you last in a miserable home, nothing more than an embarrassment to the selfish, fucked-up brats you have spawned to replace yourself. Choose your future. Choose life... But why would I want to do a thing like that?

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  4. Why would you wanna do that when you've got farinha?

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  5. na passagem para o filme houve a necessidade do "romance"... o sentimento que tem de estar lá sempre e é típico de qualquer filme.
    -:farinha pá? LOL

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  6. Eu tiraria essa cena do romance e metia o Begbie a distribuir mais porrada, para ser honesto hehe

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  7. Simão,

    Teria sido o livro um sucesso, sem o filme?

    Penso que não! Quando ao livro não poderei falar, no entanto, o filme é qualquer coisa de extraordinário! Por isso, é que a projecção dos actores, em termos de carreira, foi o que foi...bombástica!

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  8. Henrique,
    o livro já vendia bem antes do filme ter lançado, de modo que não sei bem afirmar se teria tido este sucesso que teve/tem ou não, mas que ajudou a projectar a carreira de I. Welsh, lá isso ajudou.
    Sim, a carreira do Ewan McGregor está a ter um sucesso que creio nem o próprio nem nos seus sonhos mais mirabolantes esperava vir a ter... mas leia o livro, aposto que ficará decepcionado com o filme, como eu fiquei. Nada ultrapassa a maneira como o Welsh descreve as cenas e mantém as narrativas com uma lucidez e perfeição assinalável.
    Trainspotting 2 ao que parece está já em produção, mas não sei o que pode sair de lá. "Porno" é o romance que dá seguimento a "Trainspotting" (e a "Cola"), portanto duvido que me consiga surpreender... "Porno" é talvez o meu favorito de Welsh :)

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