terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Mario Vargas Llosa «A Tia Julia e o Escrevedor»



Para além de ser político, ensaísta e jornalista, Mario Vargas Llosa é um famoso escritor que venceu o Prémio Nobel da Literatura no ano transacto. O peruano é dos autores mais famosos da literatura latino-americana, a par de Gabriel García Márquez ou do já falecido Roberto Bolaño.  
          
A Tia Julia e o Escrevedor é um romance auto-biográfico que retrata a actualidade social, cultural e política da cidade de Lima no particular e o Peru no geral, tendo por pano de fundo a quente década de cinquenta e os amores do jovem Mario, Marito ou Varguitas de dezoito anos pela sua tia Julia de trinta e dois anos, divorciada e boliviana – na realidade, irmã de uma tia do personagem principal. Em paralelo, existe o criador de novelas Pedro Camacho, também ele boliviano, que é contratado pela Radio Central de Lima para tentar o aumento de audiências na época onde a televisão ainda não existia e a rádio era líder e o meio com maior impacto na difusão de notícias e estórias amorosas para entretenimento familiar. O romance proibido de Mario - que ocupa a sua vida profissional entre o curso de Direito e os serviços de informação na rádio, sem esquecer a esperança de um futuro risonho a nível literário - e Julia, não é aprovado pelos seus familiares, desencadeando toda uma narrativa de aventuras, mentiras e peripécias que, ao longo de todo o livro a relação entre ambos seja possível, apesar de um grande secretismo.

A diferença de idades é, sem dúvida, o ponto que é mais focado: Mario e Julia estão separados por catorze anos e, no entanto, o autor encontra forma de mostrar que o amor não escolhe idades e que com audácia e determinação, todos os obstáculos podem ser evitados. Para isso, muito contribui a ajuda de Javier e Pascual, personagens secundárias que trabalham com Mario na rádio. A obra é, respectivamente, intercalada entre um parágrafo para a estória/história de Mario e outro para as mirabolantes novelas tipicamente argentinas de Pedro Camacho, a personagem carismática que faz as delícias dos peruanos com personagens e enredos que variam entre o desconexo e o incrível, mas que no fundo é o que a Radio Central de Lima quer, obtendo grandes audiências e lucros até ao momento em que Pedro Camacho é internado devido a problemas de cansaço e falta de memória.
           
À excepção dos devaneios caóticos que o leitor sente com o crescer das novelas do referido Camacho, a obra é escrita num ritmo sereno e com uma escrita simples, repleta de referências literárias e também políticas. O humor está sempre presente, em particular na hora de descrever as famílias de Mario e Julia e o dia-a-dia do centro e dos arredores da cidade de Lima. Em suma, vai agradar aos que já conhecem a obra do escritor, sem no entanto se afastar dos que ainda não a conhecem.

2 comentários:

  1. O livro é excelente.
    Para mim, o duplo sentido nas trocas das personagens nos folhetins de Camacho ajuda e muito a tornar este livro numa autêntica obra de arte.

    ResponderEliminar
  2. É um bom livro, Tiago, mas não o elevo ao patamar de obra de arte :)

    ResponderEliminar