terça-feira, 12 de junho de 2012

Miguel Gonçalves Mendes «José e Pilar – Conversas Inéditas»


Durante quatro anos, o realizador de cinema Miguel Gonçalves Mendes conviveu com José Saramago e Pilar del Río na residência de ambos em Lanzarote, Espanha. Em 2010 estreou em Portugal o filme documentário José e Pilar, no final do ano passado a Quetzal publicou estas conversas que funcionam como um complemento à película.

Centenas de horas de conversas com um dos casais mais simpáticos e populares da literatura, dispostas por cerca de duzentas páginas e que incidem sobre os tópicos das letras, da obra de Saramago e das suas viagens à volta do mundo, das posições firmes na área da política e também da vida pessoal do casal. Os mais familiarizados com a obra do Nobel 1998 não estranharão certamente a maioria das suas intervenções, pois neste livro o autor de Memorial do Convento inclina-se sempre para a direcção que o seu vento soprou. Saramago aproveita também para esclarecer a questão do despedimento de jornalistas no Diário de Notícias.

Curiosamente, as entrevistas com Pilar são o ponto mais atractivo desta obra. Sempre em castelhano – e aqui a Quetzal arriscou um pouco nesta aposta – e sem tradução, a espanhola natural de Granada impõe-se de forma clara e extremamente frontal, aproveitando mais que uma vez para explicar que o descanso é importante e que será eterno após a morte, daí que há que viver o momento como se não houvesse amanhã. O processo de tradução dos livros de Saramago para a língua espanhola é aqui explicado, e Pilar assegura que não interfere de forma alguma com o decorrer da escrita e das ideias do marido. 

O ponto mais frágil destas duzentas páginas reside no próprio Miguel Gonçalves Mendes, que mostra algum receio nas questões que coloca; de facto, creio que o entrevistador poderia por vezes impor um pouco mais as suas ideias e tomar a rédea da entrevista; fica a sensação de que por vezes os entrevistados passam a conduzir o ritmo da conversa, encurtando o espaço e tempo das questões do locutor.

José e Pilar – Conversas Inéditas apresenta o lado de Pilar del Río que era relativamente desconhecido do grande público, confirmando que a mesmo foi mesmo muito mais que a mera “esposa de Saramago”.

3 comentários:

  1. Gostei muito do filme, mas não irei ler o livro.
    Saramago já morreu há dois anos, tenho saudades dos seus comentários no blog, muitas vezes foi através da sua escrita que me apercebi das maiores atrocidades que o ser humana é capaz de fazer.

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  2. Tenho o filme cá em casa e ainda nem o vi com atenção. Ele, o filme, é assim tão bom?

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  3. Vi o filme/ documentário e é sublime. Vale mesmo vê-lo. Um grande homem.
    Há uma semana atrás fui a uma conferência em que esteve a filha dele - Violante - e foi muito agradável ouvir histórias dele contadas pela filha.

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