quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Converge «All We Love We Leave Behind»



Não me recordo de alguma vez uma canção me cativar tanto como com os últimos dois discos daquela que, para mim, é a banda mais interessante, intensa e original da actualidade – já o é há muitos anos. Dark Horse fez por mim o mesmo que Aimless Arrow fez antes do lançamento deste disco: aquela sensação horrível de querer ouvir o produto final por inteiro e ter de esperar umas semanas até o poder fazer. No entanto, e como diz o velho ditado, quem espera sempre alcança: All We Love We Leave Behind é o grande disco deste 2012 e o mais extremo desde No Heroes (2006).

Os Converge são aquela banda que se manteve fiel aos princípios éticos do hardcore punk dos anos 80. Tudo é gravado por eles mesmos – por Kurt Ballou, o guitarrista -, a atitude é 100% “do it yourself”, dispensam “triggers” e produções artificiais, gravam música para eles, claro, mas sabem que os fãs vão aceitar tudo o que venha do processo criativo… ou talvez não, não interessa, e passam o ano todo em tour, também (tal como os Black Flag faziam. All We Love We Leave Behind continua, como era esperado, com a habitual produção crua e rude que caracteriza o catálogo da banda, sem qualquer tipo de espaço para embelezamento cosmético.

Jane Doe (2001) é visto como um dos grandes discos do mathcore técnico – salve-se a redundância – e foi uma das grandes referências do hardcore e metal da primeira década deste milénio. Algo me diz no entanto que este novo disco será encarado não como uma extensão de Jane Doe, mas sim como mais um pico dentro do processo criativo e uma nova página do livro deste conjunto de Salem, Massachusetts. Nesta nova etapa,  contrariamente ao anterior disco Axe to Fall, que contou com presença de membros de Neurosis e outras grandes bandas, não há colaboração de músicos, o que torna possível tocar este disco ao vivo na íntegra.

O “melting pot” que Jacob Bannon, Kurt Ballou, Nate Newman e Ben Koller têm sustentado ao largo de mais de 20 anos – formaram-se em 1990 – segue fiel à sua receita e funde diferentes géneros e distorções instrumentais/harmonias; de facto, se observarmos com atenção a fusão entre metal e hardcore e grupos como Rise and Fall, Amenra, Oathbreaker, Trap Them, etc, é mais que notória a grande influência convergiana. Há aqui D-beat, Crust/Grindcore (Tender Abuse, On My Shield, Sparrow’s Fall), punk rock puro (Vicious Muse), e uma grande dose de originalidade: Coral Blue, Precipice, All We Love We Leave Behind, Shame in the Way, etc. Kurt Ballou estava em dúvida em relação a incluir Coral Blue neste disco porque receava que o mesmo não se enquadrasse no estilo do álbum, mas a verdade é que este é o tema mais bonito e orelhudo destes quinze temas (dezassete na versão deluxe) e, pessoalmente, umas das canções mais fortes que escreveram nos últimos três álbuns. Instrumentalmente, o quarteto é exímio dentro daquilo que vai criando, com espaço aqui para devaneios técnicos com a assertividade que lhes é reconhecida, mas a alma continua verdadeiramente punk rock sem compromissos.

As letras de Converge são outro dos pontos fortes e motivo pelo qual devem ser sempre lidas e, mais importante, sentidas. Não primam muito pela alegria, abordam várias situações de tristeza que a vida nos proporciona e vários falhanços amorosos, mas a forma como Jacob Bannon aborda todas estas questões – seja com frustração, raiva ou com esperança – torna esta experiência única que é ouvir Converge num momento de transcendência sentimental. Aimless Arrow, primeiro tema e single do disco, e o tema homónimo devem ser recordados para a posteriori como Last Light e The Broken Vow são hoje.

Uma vénia a estes senhores, por favor.

9.5/10

Sem comentários:

Enviar um comentário