segunda-feira, 14 de março de 2011

Chuck Palahniuk «Clube de Combate»


Pode parecer que não, mas esta obra foi várias vezes censurada pela crítica e pela própria editora. Pode também parecer que não, mas aquilo que viu nos cinemas e agora pode ver no conforto do seu lar é uma mera adaptação de um romance de Chuck Palahniuk, uma das mais brilhantes e inovadores mentes da literatura norte-americana contemporânea. Clube de Combate foi publicado pela primeira vez em 1996 e, apenas três anos volvidos, foi adaptado ao cinema pelo realizador David Fincher (7 Pecados Mortais, A Rede Social, O Estranho Caso de Benjamin Button).

Um homem na casa dos 30, responsável pela segurança da linha de produtos numa empresa de automóveis, devorador dos catálogos e produtos da IKEA parece levar uma vida de sonho. Este homem, cujo nome nunca é referido, sofre de depressão e insónias crónicas. O seu médico diz-lhe que a insónia nunca matou ninguém e o melhor para ele é mesmo ir ao ginásio fazer desporto para ficar cansado e, consequentemente, ficar com sono. Este homem decide ir a grupos de terapia para pacientes com doenças graves, onde conhece Marla: uma pessoa que tal como o narrador/personagem, passa as noites nestes grupos. Numa viagem de avião, o narrador/personagem finalmente conhece Tyler Durden, um tipo cuja filosofia se baseia na autodestruição como meio para tornar a vida merecedora de ser vivida, ao contrário da realização pessoal, que é para os fracos. Depois do apartamento da personagem principal (vamos chamar-lhe “?”) ter explodido, ? decide ligar a Tyler para irem beber um copo. No final, começam a lutar um com o outro e formam o Clube de Combate.

A primeira regra do Clube de Combate é: não falar do Clube de Combate. A segunda regra do Clube de Combate é: NÃO falar do Clube de Combate. A terceira regra do Clube de Combate é: se alguém disser “pára” ou ficar coxo, a luta termina. A quarta regra do Clube de Combate é: dois homens por combate. A quinta regra do Clube de Combate é: um combate de cada vez. A sexta regra do Clube de Combate é: nada de sapatos nem de camisas. A sétima regra do Clube de Combate é: os combates levam o tempo que tiverem que levar. A oitava regra do Clube de Combate é: se hoje for a vossa primeira noite no Clube de Combate, vão ter que lutar.

Tyler é o oposto de ?: ele é perito em fazer bombas artesanais, é contra o consumismo e capitalismo e adora destruir para criar. O Clube de Combate rapidamente se espalha por todos os Estados Unidos, ganhando cada vez mais adesão de homens que levam vidas miseráveis e que encontram nos combates um escape à rotina. Todos eles estão dispostos a dar a vida por Tyler Durden. À primeira vista, a obra poderia parecer uma tentativa fácil e gratuita de promover a violência como forma de vida. Não é esse o caso. Na realidade, Chuck Palahniuk é o primeiro a condenar a violência, chegando mesmo a gozar com ela. Não existe Tyler Durden… ou melhor, existe quando ? adormece. Passo a explicar: o nosso personagem principal é um indivíduo esquizofrénico que se transfigura sempre que adormece. Se ele adormecer, Tyler entra em cena e causa caos. Portanto, ? assim que descobre que tem personalidade dupla, procura junto de Marla uma forma de se manter sempre acordado para evitar que males piores aconteçam. 

Durante um ataque de um dos grupos de Tyler, Bob morre. Bob é um ex-culturista que ? conhece num grupo de terapia e com quem trava amizade. Bob sofre de cancro nos testículos e tem mamas de mulher devido aos esteróides que tomou. O sentimento de revolta de ? perante a morte de Bob, é um sentimento de acabar de forma racional com a existência de Tyler Durden. Clube de Combate nunca poderia ser um livro escrito para causar sensacionalismo gratuito. McDonald’s, IKEAs, Coca-cola e todos os produtos que nos impingem no dia-a-dia (capitalismo/consumismo, no geral), o medo de enfrentar os problemas (recorrendo a comportamentos violentos) e o viver a vida no extremo da sanidade, são alguns dos temas abordados nesta grande obra.

Estamos perante uma obra que conta com milhões de seguidores no cinema e com um número significativo de leitores que seguem o culto deste escritor com grande devoção - daqui a alguns anos, esta obra será elevada ao nível de Laranja Mecânica, de Anthony Burgess. Clube de Combate é um livro fundamental para se perceber o mundo distorcido e transgressor em que Chuck Palahniuk vive e do qual se alimenta.  

4 comentários:

  1. Daqui a uns o Chuck vai ser o autor estudado nas escolas americanas!

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  2. Espero bem que sim! Adoro ler o nosso amigo Chuck :D

    O "Invisible monsters" parece que também vai ser adaptado ao cinema :D

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  3. Nice! O último adpatado, o asfixia (versão tuga), anda pela fnac de Braga a 5 euritos

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  4. Pois, eu sei. Estou à espera do meu hardcover desse grande livro.

    Mas em português não quero ler nada, rigorosamente nada, mesmo... aliás, quero-me desfazer do meu "Clube de Combate" para ter o "Fight Club" :)

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