Para quem não sabe quem Chuck Schuldiner foi, fiquem a saber que era o tipo com um talento fenomenal para tocar guitarra e com uma voz ímpar que dava concertos de sandálias nos pés. A juntar a isto, criou uma das bandas com mais sucesso comercial (que se pode obter no dentro do death metal) sem comprometer a integridade pessoal e musical, ao longo de vários discos na companhia de músicos dinâmicos que ia trocando um pouco ao jeito de Yngwie Malmsteen.
Spiritual Healing (1990) acaba, de certa forma, por encerrar um capítulo na ainda curta vida dos Death (deram-se a conhecer pelo nome de “Mantas”): a passagem do death metal mais primordial – sem qualquer tipo de adjectivação pejorativa, bem pelo contrário – para aquilo um estilo original, melódico, técnico e, acima de tudo, original. Um ano mais tarde, Human vê a luz do dia e torna-se num álbum clássico, a que se seguiram Individual Thought Patterns, Symbolic e este The Sound of Perseverance. A influência do rock progressivo/fusion faz-se sentir em larga escala neste período, de onde convém salientar que o pico da junção desta amálgama ocorre no último disco do (super) grupo. Apesar de Individual Thought Patterns ser um dos discos que mais adoro dentro de todos os géneros musicais e o meu favorito da banda (foi amor à primeira vista com The Philosopher), The Sound of Perseverance representa o expoente do death metal (progressivo) nos dias de hoje – e já se passou mais de uma década desde o seu lançamento.
Já sem Gene Hoglan, Bobby Koelble, Kelly Conlon e com uma participação adicional de Steve DiGiorgio, Schuldiner recrutou músicos com quem viria também a trabalhar no seu projecto de power/progressive metal Control Denied: Shannon Hamm, Scott Clendenin e Richard Christy. O disco abre com um curto solo de bateria, uns riffs de bateria descontraídos e um baixo a fazer lembrar aquelas notas graves de Human; a voz é cortante, forte e determinada, os dedos vão debitando nota, atrás de nota, escala após escala, até que as palavras se façam ouvir («Big words, small mind / Behind the pain you will find / A scavenger of human sorrow») e o ritmo acelere bastante num brilhantíssimo jogo de contra-tempos e puro exibicionismo instrumental, daqueles que fazem com que ao comprarem um instrumento, o devolvam no dia seguinte. Scavanger of Human Sorrow é das faixas de metal progressivo que mais prazer dão escutar e igualmente um grande cartão-de-visita para esta pérola dos anos 90.
Um dos factores que ajudam a distinguir o som deste disco é o destaque dado à bateria. Embora os músicos mudassem praticamente de disco para disco, Chuck Schuldiner sempre gostou que os seus bateristas ocupassem as artérias principais do coração musculado de cada disco pós-Spiritual Healing. Sean Reinert (um dos responsáveis pelo supra-sumo Focus, dos Cynic), Gene Hoglan (agora nos Fear Factory) e Richard Christy são músicos extraordinariamente versáteis e criativos que ajudaram à criação e divulgação do nome e peso que os Death ainda hoje ostentam; contrariam, já agora, aquela falsa teoria de que o metal não existiu nos anos 90. Referi atrás a palavra “progressivo” e retorno a ela: enquadrar este disco na mera categoria de “death metal” é errado. The Sound of Perseverance pega nas bases de temas como Lack of Comprehension, Mentally Blind, Flattening of Emotions e afixa-lhes os elementos já bastante progressivos de Symbolic, Crystal Mountain ou Perennial Quest. Jethro Tull, Fates Warning, Queensrÿche, Toxik ou Atheist merecem ser metidos ao barulho – não só neste disco. No entanto, e apesar de as referências atrás mencionadas serem total merecedoras de crédito, Schuldiner criou um som demasiado original e fascinante. Pormenores como os riffs “arabescos” e a lucidez de Flesh and the Power it Beholds (que harpejos de cortar a respiração…), a variação rítmica de Spirit Crusher, a beleza do instrumental Voice of the Soul e os solos esbeltos de A Moment of Clarity e A Story to Tell não se encontram facilmente num disco.
13/05/1967 – 13/12/2001.
9.5/10
Sem comentários:
Enviar um comentário