sexta-feira, 26 de agosto de 2011

J. Rentes de Carvalho «La Coca»


José Rentes de Carvalho é um autor mais conhecido nos Países Baixos que no seu próprio Portugal. Nascido em 1930, em Vila Nova de Gaia, cedo começou a emigrar para vários países, até que em 1956 se estabeleceu em Amesterdão no ramo do jornalismo e ensino de Literatura. Ainda hoje reside em Amesterdão, onde ainda escreve.

La Coca é uma viagem auto-biográfica ao José Rentes de Carvalho que viveu no Douro e no Minho e que visitava regularmente a Galiza. Entre o Minho e a espanhola Galiza costumava e costuma haver tráfico de droga, e é precisamente neste espaço geográfico que a acção do livro decorre. Como ponto de partida temos um homem que nos anos 90 (a obra foi publicada originalmente em 1994) viaja de Amesterdão ao Minho para fazer uma reportagem de investigação sobre o tráfico clandestino de drogas e de outros artigos na época actual, recorrendo para isso ao reencontro de personagens do seu passado. Estes encontros com amigos da sua época desperta na nossa personagem principal um grande sentido de nostalgia e de ternura, relegando assim a investigação sobre a droga para segundo plano em prol do reviver da sua vida.

Apesar de ser catalogado pela editora como um romance, La Coca (cujo título o significado é enganador) é bem mais a história da vida do autor com personagens reais e outras que também reais, apenas com nomes diferentes; no Minho, José revisita o local onde cresceu e onde foi manifestamente feliz. Oriundo de uma família com poucas posses, o jovem José conviveu com muitas pessoas que dedicariam a sua vida ao narcotráfico minhoto com destino à Galiza, terra de muitos senhores da cocaína, haxixe e heroína. No entanto, e volto a frisar, a narrativa privilegia o recordar em detrimento deste circuito clandestino.

Com uma escrita calma e suave, J. Rentes de Carvalho preocupa-se em criar personagens que, fictícias ou verdadeiras, transpiram a sua realidade, descurando alongar-se em demasia sobre as vidas pessoais das mesmas, através de traços que já vimos num José Saramago ou nos contos de José Cardoso Pires, por exemplo. Devido ao seu carácter demasiado auto-biográfico, La Coca cai no risco de não agradar ao leitor que desconhece a vida do autor, daí que Com os Holandeses, Ernestina ou Tempo Contado (todos recentemente publicados pela Quetzal) sejam escolhas mais acessíveis.

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