domingo, 18 de setembro de 2011

«Pi»


Foi com um orçamento de 60 mil dólares que Darren Aronofsky se estreou no mundo do cinema. Muito antes de andar nas bocas do mundo com filmes que lhe gracejaram prémios e lhe permitiram trabalhar com alguns dos actores mais bem pagos de Hollywood, foi através de um filme indie que este – cada vez – mais surpreendente realizador se deu a conhecer ao mundo.

Como se se tratasse de uma materialização de sentimentos surreais de David Lynch e dos quebra-cabeças de David Cronenberg, esta película navega nos oceanos do thriller psicológico, explorando assim a mente humana da matemática. Max Cohen (Sean Gullette) interpreta um brutal e exaustivo papel na pele de um génio matemático que acredita que a natureza é composta por números e que a elaboração de gráficos com os mesmos conduz à criação de matrizes. Graças ao seu intelecto e ao seu super computador Euclides, Max dedica-se à descodificação do mercado de acções em busca de um número de duzentos e dezasseis dígitos que não lhe é revelado na totalidade porque o seu computador avaria perto do final do processo. A acção de Max não deixa indiferente um grupo de perigosas pessoas que querem obter o controlo dos valores. Paralelamente, Max vê-se envolvido com uma seita religiosa judaica que vê em Max um messias capaz de lhes revelar uma profecia sagrada; estes ortodoxos religiosos explicam a Max que o hebraico presente na Tora é similar à matemática e que ela contém também um número de duzentos e dezasseis dígitos que, uma vez descodificados, revelam a matriz enviada por Deus ao seu povo. 

Max sofre também de ataques de paranóia e ansiedade que lhe causam graves dores de cabeça e perdas de lucidez, obrigando-o a recorrer a forte medicação que ao aliviar-lhe o sofrimento, lhe causa desconforto e vício e alucinações sobre o que o rodeia e sobre o número de duzentos e dezasseis dígitos que pode ser a chave do universo. Estas cenas em que o actor alucina são fortes e ambíguas, deixando para a interpretação de cada um se determinadas acções ocorrerem de facto ou nem por isso; quanto mais Max tenta descobrir as matrizes, pior fica o seu estado de saúde, infiltrando-se o caos e a quási loucura no decorrer da narrativa claustrofóbica e surrealista.

Pi tem um outro ponto forte que são as filmagens totalmente a preto e branco. Mais em preto e com pouco branco, esta técnica de filmagem induz a dubiedade, o pânico e um grande sentido de atordoamento ao largo do filme, obrigando a uma lenta absorção da acção e a uma contemplação das imagens – algumas bem grotescas – para um compreensão razoável do desenrolar das acções matemáticas e delirantes. Parabéns, uma vez mais, a Aronofsky e aos actores/escritores que ajudaram à materialização do guião em filme e com tão escassos recursos.

Realização: Darren Aronofsky
Argumento: Darren Aronofsky, Sean Gullette, Eric Watson

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