sábado, 29 de outubro de 2011

Opeth «Heritage»


O que fazer quando uma banda anuncia que vai mudar de estilo, mantendo no entanto, os alicerces de toda a sua obra discográfica? O que fazer, então, se quem responde à pergunta é um seguidor de longa data do grupo, tem as raridades, compra bootlegs e LPs? Talvez a maioria desses fãs goste do que a banda venha a compor, talvez a maioria sacuda a cabeça em desagrado.

Heritage marca a passagem do death metal progressivo para o rock progressivo genuinamente anos 70, a começar no design da capa do disco, na produção e a acabar, bem, na música. Mikael Åkerfeld, líder e mentor de uma das bandas que mais inovou e quebrou barreiras no heavy metal dos últimos quinze/vinte anos, já há muito que ia avisando que um dia iria fazer um disco puramente progressivo, baseado nas bandas que ele e o resto da banda cresceram a ouvir: Camel, Yes, Genesis, King Crimson, etc. Åkerfeld, em entrevistas, afirmou que se sentia um pouco deslocado da comunidade death metal e que quando era mais jovem não era propriamente um metaleiro; antes alguém que apreciava metal extremo, sim, mas que não era fanático pelo mesmo – em 2006, aquando da passagem da banda pelo extinto Hard Club de Vila Nova de Gaia, e promovendo Ghost Reveries, ele questionou a plateia se apreciava… Camel, Yes, King Crimson.

Esta não é, no entanto, a primeira vez que os suecos apostam num disco rock, visto que já em Damnation tinha havido uma abordagem claramente roqueira e em prol de algo que tinha semelhanças com Porcupine Tree em vários aspectos. Sem embargo, era público que a banda iria aproveitar essa experiência mais calma e voltar ao death metal que lhes era conhecido, ao passo que este Heritage cria uma verdadeira incógnita: alguma vez recuperarão o fulgor de um My Arms, Your Hearse, ou aqueles guturais e aqueles riffs brutais de uma Master's Apprentices? Só Åkesson, Svalberg, Axenrot, Méndez e Åkerfeldt saberão responder à pergunta. O álbum em si apresenta-se compacto, muito bem tocado e com um aroma demasiado anos 70, para grande pena da originalidade que marcava os anteriores registos. Os dedilhados e os riffs funcionam às mil maravilhas, a percussão de Axenrot é, no mínimo, enorme, e o baixo e órgão vincam bem a aposta progressiva – especialmente o órgão - de há quatro décadas no tempo.

Heritage é também um trampolim para Åkerfeldt mostrar a graciosidade da sua voz limpa – que bela que ela é -, sem qualquer berro, num equilíbrio constante de um músico que tem agora a sua oportunidade para mostrar ao mundo que tem um timbre único e que compõe letras como poucos, a juntar à criatividade da sua guitarra. O disco falha claramente na colagem demasiado óbvia aos colossos do rock progressivo, já referida por mim e por todos aqueles que opinam sobre o álbum, e isso é algo que a banda pouco poderá argumentar para se defender, mas era isto que eles queriam gravar e, nesse aspecto, sempre foram honestos – nada de dedos em apontados, por favor. Os momentos de maior intimismo são aqueles que soam melhor e que dão realmente gosto de serem apreciados vezes e vezes sem conta; estou a falar de Nepenthe e do seu grande solo à Jethro Tull, do aroma folk tão bem conseguido de The Lines in My Hand, as variações de rimo e peso de Famine e a vénia que tem que ser feita ao sentimento épico que Folklore transmite. Menção honrosa para o tributo a Ronnie James Dio de Slither, a faixa mais hard ‘n’ heavy do décimo disco de originais do grupo do sul da Suécia.

O ouvinte mais casual vai adorar Heritage, o fã de longa data vai ficar algo decepcionado, enquanto que o tal que tem tudo e mais alguma coisa da banda, embora defraudado, vai esgrimir argumentos e “factos” que comprovam que não, que este álbum é fantástico e que a originalidade abunda. Enfim, tem os seus grandes momentos, foi composto por músicos de calibre inquestionável, mas estamos em 2011, não em 1970.

7/10

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