sábado, 15 de outubro de 2011

«Broken Flowers – Flores Partidas»


A primeira vez que Bill Murray e Jim Jarmusch trabalharam juntos foi, se não me falha a memória, em 2003, em Café e Cigarros, um daqueles filmes que muitos viram e até compraram para dar um ar de intelectual – agora reina o termo “hispter” -, porque basicamente conta a estória de vários indivíduos que se sentam num café para tomar a bebida negra, inalar e exalar fumo. Não me interpretem mal, eu gostei do filme e até me ri nalgumas ocasiões, no entanto, e parece-me óbvio, o filme não passou da união de vários amigos de longa data para darem duas de treta. Com café e cigarros, pois claro.

Bill Murray é daquelas pessoas cuja expressão facial dá vontade de soltar uma gargalhada seca, tímida, quase forçada. Saltou para a ribalta de Hollywood com Os Caça-Fantasmas na pele do Dr. Peter Venkman já lá vão vinte e sete anos e ultimamente trocou a capital da sétima arte pela Canes europeia – trocou as “comédias comédias” e passou para as comédias dramáticas, ou pelo menos “comédias que não são assim tão cómicas”, mas gratificantes. Rendi-me à pessoa de Murray em Lost in Translation – O Amor É um Lugar Estranho, uma das maiores pérolas deste século, e desde então vou acompanhando a sua carreira que inclui este Broken Flowers – Flores Partidas (havia mesmo necessidade de acrescentar – Flores Partidas ao título?...), um filme que gira em torno de um homem que tende a ser popular entre o sexo oposto.

Sherry (Julie Delpy) deixa Don Johnston (Murray) após encontrar uma carta cor-de-rosa anónima no correio direccionada ao namorado. Na carta, uma mulher explica a Don que este tem um filho de 19 anos e que está empenhado em descobrir onde o pai mora; no entanto, não revela nada sobre ela própria e não se mostra sequer muito amor por Don. Com a ajuda do seu vizinho Winston (Jeffrey Wright), os dois elaboram um plano para esta estranha carta: procurar todas as ex-namoradas que Don teve há exactamente dezanove anos. Avião, carro de aluguer e descoberta das namoradas que poderiam ser mães do suposto filho e, claro, um ramo de rosas sempre à mão. Os encontros com as mulheres correm de forma estranha e desconfortável, embora Don se mostre entusiasmado nalguns dos reencontros, nunca chegando a sentir verdadeira alegria por rever os ex-amores – mesmo após fazer sexo com uma delas.

A vida de Don é enfadonha e ele sente-se miserável, apesar de não admitir essa situação. Para bem dele, a viagem à procura do filho traz-lhe uma lufada de ar fresco na sua vida e rejuvenesce-o uns bons anos, contra a sua própria vontade. Broken Flowers – Flores Partidas é a antítese do drama puro e os seus momentos que apelam à comédia são tímidos, mas bem elaborados por Jarmusch. A prestação de Murray é, mais uma vez, de grande nível, tornando-o num dos mais talentosos da sua geração.

Título original: Broken Flowers
Argumento: Jim Jarmusch
Realização: Jim Jarmusch

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